Mães brasileiras são as que mais sentem culpa por não amamentar os filhos, diz pesquisa
Dados mostram também o que mulheres no mundo todo pensam sobre dar de mamar em público
Que mãe se sente culpada por quase tudo, todo mundo sabe. A novidade, no entanto, é que as brasileiras estão entre as mães que mais sentem peso na consciência quando o assunto é amamentação. Um levantamento mundial divulgado hoje aponta que 93% das mulheres no Brasil sentiriam culpa caso não pudessem dar de mamar aos seus bebês.
Estamos à frente de outros nove países pesquisados, sendo que, em oito deles, a resposta da maioria é sempre igual: não amamentar é motivo de remorso. Apenas a Alemanha teve como predomínio um resultado inverso — 39% das mães não lamentariam o fato de ter que abrir mão da amamentação.
Depois de duas experiências tranquilas com os filhos mais velhos, Gustavo e Vitória, a dona de casa Daniele Dalto Costa, de 24 anos, enfrenta agora com Felipe, seu terceiro bebê, algumas dificuldades na hora de dar de mamar.
— Comecei a ter problemas já na maternidade, ele não conseguia pegar meu bico. Ficamos dois dias a mais lá, porque ele não ganhava peso. Depois, em casa, optei pelo bico de silicone, e ele passou a mamar bem. Quando tentei tirar o bico, ele até conseguiu pegar, mas não ficava muito tempo. Estou há um mês e meio dando só complemento.
Como retrata a pesquisa — patrocinada por uma marca especializada em produtos para amamentação —, Daniele faz parte da grande porcentagem de mulheres que sentem culpa por não poder dar o peito ao bebê.
— Eu chorava o tempo todo, e ele ficava muito agitado. Achava que o problema podia ser porque, com ele, não tive toda a ajuda que tive com os dois primeiros, e que o nervosismo de cuidar de três filhos talvez tivesse me afetando. Me senti muito culpada. Achei que a médica ia me dar uma bronca, dizer que era má vontade minha, mas aí, então, ela falou que não havia culpa por nada, e que o importante era ele estar saudável. Daí fiquei mais tranquila.
De acordo com a pesquisa, 41% das brasileiras acreditam que o tempo ideal de amamentação vai de seis meses a um ano. No entanto, apenas 33% delas conseguiram de fato colocar em prática a amamentação por este período.
Ainda no Brasil, 9% das mães acham que o certo é dar de mamar ao bebê entre um a dois anos, e 9% gostariam de fazê-lo por mais de 24 meses. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a recomendação é que o aleitamento materno seja exclusivo durante os primeiros seis meses de vida da criança, devendo ser continuado com alimentos complementares apropriados até os dois anos ou mais.
A principal dificuldade da amamentação alegada pelas mães no levantamento em todo o mundo é acordar no meio da noite, seguida por dor de amamentar, aprender a amamentar e amamentar em público. Este, aliás, ainda parece ser um assunto tabu entre as mulheres.
De acordo com a pesquisa, as francesas são as que mais consideram “constrangedor” o ato de dar de mamar em lugares públicos, com 41% das mães se sentindo incomodadas ao pensar nesta situação. No Brasil, 21% das entrevistadas também definiram como embaraçosa a amamentação em público.
As turcas são as que mais consideram a amamentação em público “errada”, enquanto as mulheres do Reino Unido foram as que mais responderam que se trata de algo “perfeitamente natural” — mesma resposta dada por 55% das brasileiras e 51% das mexicanas entrevistadas.
A dona de casa Daniele afirma que com seus três filhos não sentiu qualquer tipo de vergonha de dar de mamar fora de casa.
— Eu amamentava numa boa, não me preocupava se alguém ia olhar. Jogava a fraldinha em cima e amamentava. Jamais deixaria um filho passando fome por me preocupar com o que os outros ia pensar.
O levantamento simulou, ainda, uma situação hipotética de uma mãe amamentando em um local público um bebê de dois anos, oferecendo quatro alternativas de resposta. As mães brasileiras estão entre as que mais escolheram “fantástico” — 44% selecionaram esta opção. As alemãs e mexicanas lideram a lista na resposta “o bebê é muito grande” — 58% e 57%, respectivamente.