Homens e mulheres: novas relações criativas
A criatividade é a dinâmica do próprio universo. Seu estado natural não é a estabilidade mas a mutação criativa. Tudo é fruto da criação natural ou humana. A Terra é fruto de uma Energia criadora, misteriosa e carregada de propósito. Um dia, um peixe primitivo, “decidiu”, num ato criador, deixar a água e explorar a terra firme. Desse ato criativo, vieram os anfíbios, em seguida os répteis, depois os dinossauros, por fim os mamíferos e nós.
Depois do reconhecimento da pessoa como pessoa, decisivas são os valores da cooperação e a democracia como valor universal no sentido da participação na vida social, da qual as mulheres historicamente foram alijadas.
Bem enfatizava o grande biólogo chileno Humberto Maturana: a permanência do patriarcalismo representa a tentativa de regressão a um estágio pré-humano que nos remete ao nível dos chpimpanzés, societários mas dominadores.
Por isso que a luta pela superação do patriarcalismo é uma luta pelo resgate de nossa verdadeira humanidade. Mulheres pelo fato de serem mulheres, recebem menor salário fazendo o mesmo trabalho. E elas compõem mais da metade da humanidade.
A democracia participativa e sem fim, fundamentalmente, quer dizer participação, sentido do direito e do dever e senso de co-responsabilidade. Antes de ser uma forma de organização do Estado, a democracia é um valor a ser vivido sempre e em todo o lugar onde seres humanos se encontram. Essa democracia não se restringe apenas aos humanos mas se abre aos demais seres vivos da comunidade biótica, pois se reconhece neles direitos e dignidade. A democracia integral possui, pois, uma característica sócio-cósmica..
A superação da ancestral guerra dos sexos e das políticas opressivas e repressivas contra a mulher se dá na mesma proporção em que se introduz e se pratica a democracia real e cotidiana. Foi em nome desta bandeira que a grande escritora e feminista Virgínia Wolff (1882-1941) podia proclamar: “Com mulher não tenho pátria, como mulher não quero pátria, como mulher minha pátria é o mundo inteiro”.
A luta contra o patriaracado supõe um reengendramento do homem. Seguramente nessa tarefa ele não conseguiria dar o salto de qualidade por si mesmo. Daí ser importante a presença da mulher ao seu lado. Ela poderá evocar nos homens ofeminino escondido sob cinzas seculares. Ela poderá ser co-parteira de uma nova relação humanizadora.
O primeiro a fazer é privilegiar os laços de interação mútua e a cooperação igualitária entre homem e mulher. Aqui se impõe um processo pedagógico na linha de Paulo Freire: ninguém liberta ninguém, mas juntos, homens e mulheres, se libertarão num exercício partilhado deliberdade criadora.
A partir deste novo contexto devem-se recuperar aqueles valores considerados antigos e próprios da socialização feminina, mas que agora devem ser gritados aos ouvidos dos homens e junto com as mulheres procurar vivê-los. Trata-se de um ideal humanitário para ambos. Permito-me resgatar alguns:
— As pessoas são mais importantes que as coisas. Cada pessoa deve ser tratatada humanamente e com respeito.
— A violência jamais é um caminho aceitável para a solução dos problemas.
— É melhor ajudar do que explorar as pessoas, dando atenção especial aos pobres, aos excluidos e às crianças.
— A cooperação, a parceria e a partilha são preferíveis à concorrência, à auto-afirmação e ao conflito.
— Nas decisões que afetam a todos, cada pessoa tem o direito de dizer a sua palavra e ajudar na decisão coletiva.
— Estar profundamente convencido de que o certo está do lado da justiça, da solidariedade e do amor e de que a dominação, a exploração e a opressão estão do lado do errado.
Outrora tais valores, tidos por femininos, foram manipulados pela mentalidade patriarcal para manter as mulheres subordinadas e dóceis. Hoje, com a mudança do quadro do mundo e da sociedade, tais valores são aqueles que nos poderãosalvar. Eis a razão porque homens e mulheres devem ser criativos em suas relações que assim se humanizam.