'Quero justiça', diz mãe de menina morta após inalar remédio errado
A mãe da adolescente de 14 anos que morreu na última segunda-feira (14) após ter inalado um remédio errado durante uma crise de asma no Rio Grande do Sul afirmou que quer justiça e que não percebeu na embalagem que se tratava de outro medicamento. O corpo de Andriza Oliveira da Silva foi sepultado na terça em Guaíba, na Região Metropolitana de Porto Alegre, onde ela morava.
"Eu só olhei na caixinha, entendeu? E caixinha de genérico é tudo igual. E eu olhei e dei para ela fazer", desabafou a mãe. "No momento em que ela começou a fazer a nebulização, ela disse: 'Mãe, tá aumentando a minha falta de ar'. Eu quero que haja justiça, para não haver outros erros que nem esse", afirmou Roseli de Oliveira da Silva.
Segundo a investigação, a adolescente precisava inalar um broncodilatador, mas acabou usando um colírio para glaucoma na nebulização, que faz o efeito contrário. O produto foi comprado por uma irmã de 10 anos de Andriza, enquanto a mãe estava no trabalho. "A receita foi levada com um bilhete com o nome do remédio, que não tinha nada a ver com o que retornou à residência da menina", contou o primo de Andriza, Rodrigo Barbosa da Silva.
A família registrou um boletim de ocorrência sobre o caso. Na quarta (16), a Polícia Civil cumpriu um mandado de busca na farmácia onde há a suspeita de erro na venda do medicamento. Foram recolhidos computadores, com o objetivo de verificar os registros no sistema. Policiais também tentam ter acesso às imagens das câmeras de segurança, que podem ajudar na investigação. O proprietário e uma gerente da farmácia prestaram depoimento.
A polícia também pediu ao Instituto Geral de Perícias laudos complementares sobre o que provocou a morte da adolescente. A certidão de óbito diz que ela foi vítima de um "edema pulmonar agudo", ou seja, excesso de líquido nos pulmões provocado por insuficiência cardíaca. Entretanto, o documento não esclarece se o uso da medicação errada pode ter influenciado para que isso ocorresse. O texto apenas informa que esses exames devem ficar prontos em três meses.
A Polícia Civil deve ouvir ouvir os depoimentos da vendedora e da farmacêutica. "Se confirmado através do laudo que o que causou a morte da menina foi o uso do medicamento que ela entregou por engano, com certeza a funcionária responde por homicídio culposo", afirma o inspetor Leonardo Gardel.
Além disso, a corporação já ouviu informalmente o dono da farmácia. Procurada pelo G1, a rede da qual a farmácia faz parte disse que está ciente do ocorrido, mas que ainda não foi possível verificar os fatos a fim de ter uma posição efetiva.
Conselho Regional de Farmácia abre processo
O Conselho Regional de Farmácia do Rio grande do Sul instaurará um processo ético disciplinar para apurar as responsabilidades pelo caso. De acordo com o presidente do órgão, Roberto Canquerini, o órgão vai apurar a suposta participação da farmacêutica no episódio.
"O atendente vende [o remédio] sob a supervisão do farmacêutico. O farmacêutico tem mais atribuições na farmácia, além do atendimento. Por isso que a gente tenta trabalhar sempre com um número maior de farmacêuticos", explicou Canquerini.
Ainda segundo ele, para medicamentos de tarja vermelha, não é obrigada a retenção da receita no estabelecimento, mas os remédios precisam de prescrição médica no ato da venda. "É comum as pessoas adquirirem remédios de tarja vermelha sem a prescrição médica, diferente dos remédios de tarja preta que a prescrição precisa ficar retida na farmácia", sustentou. O Conselho Regional de Farmácia vai solicitar acesso ao inquérito da Polícia Civil sobre o caso.