Especialistas alertam que mania de arrancar cabelo pode virar doença
23/12/2013
"Eu não percebo, mas os outros percebem por mim", disse uma secretária de 25 anos, que não quis se identificar. É assim que as doenças tricotilomania e tricotilofagia atingem as pessoas que, para controlarem a ansiedade e o nervosismo, arrancam o cabelo e em alguns casos comem os fios. Segundo especialistas, na maioria dos casos não existe consciência do que está sendo feito. Por isso, é necessário realizar um tratamento psicológico.
A tricotilomania, que é o hábito de arrancar o cabelo, e a tricotilofagia, em que além de arrancar a pessoa come os fios, podem estar relacionadas a momentos de tensão, situações desagradáveis, ansiedade e até depressão. “O principal sintoma é a ansiedade. A tricotilomania fica mais grave quando ela vira tricotilofagia. Até então o problema era só associado a transtornos psicológicos”, explicou a psicóloga Sirlei Ribeiro Giannini.
O primeiro passo para tratar essas doenças é realizar o diagnóstico. De acordo com Sirlei, o tempo do tratamento depende do grau da doença e no caso de adultos é recomendado o uso de alguns medicamentos que controlam a ansiedade, juntamente com o tratamento psicoterapêutico. “É importante descobrir quais são os hábitos das pessoas, quando isso acontece, depois descobrir alguma forma de distrair essas pessoas, para elas façam outras tarefas”, afirmou.
Ainda segundo a psicóloga, essas doenças podem causar insegurança e desconforto, pois as pessoas sentem vergonha em admitir que arrancam e até comem fios de cabelo. Sirlei Ribeiro disse que o hábito pode ser passageiro, mas também pode causar sérios problemas. “As pesquisas indicam que atingem principalmente as adolescentes. Evitar as doenças é complicado. É preciso estar atento ao comportamento e ao estresse, saber lidar com situações de ansiedade e não deixar que isso se torne um problema crônico”, alertou.
A secretária contou que tem tricotilomania há dez anos. Ela começou a perceber o problema com 15 anos e quando passava a maior parte do tempo em casa, assistindo televisão. “É mais por causa do estresse e ansiedade. Minha mãe percebia que tinha muito cabelo na sala e perguntava o motivo, eu falava que era meu e que arranquei sem ver”, declarou.
Segundo a secretária, ela não sente dor e só percebe que arranca os fios quando o braço começa a doer. Depois de procurar um médico, a jovem fez algumas consultas psicológicas e atualmente conta com a ajuda dos familiares e amigos. “Meu cabelo está crescendo ainda com o tratamento psicológico. Não uso nenhum medicamento. As pessoas que estão ao meu redor, ficam me policiando para eu não arrancar cabelo”, informou.
A dermatologista Cíntia Cunha Cardoso informou que, geralmente, os fios arrancados pelas pessoas que têm tricotilomania ou tricotilofagia nascem novamente. Porém, em alguns casos é necessário realizar um tratamento dermatológico. “O dermatologista vai passar medicamentos para o cabelo crescer mais rápido. Quando a pessoa desconfia que tem um transtorno, ela tem que procurar o dermatologista que vai diagnosticar se é a tricotilomania ou outras doenças que causam a queda de cabelo”, explicou.
De acordo com Cíntia, o cabelo cresce de um a dois centímetros por mês. Um tratamento dermatológico para os pacientes que arrancam os fios pode durar de quatro a seis meses. “Em seis meses conseguimos preencher bastante a área afetada. Existem alguns tipos de laser que ajudam na recuperação dos fios”, disse.
Na maioria das vezes, as pessoas arrancam fios de cabelo em apenas uma região do couro cabeludo, o que não leva a calvície precoce. A secretária que tem tricotilomania, por exemplo, puxa os fios com a mão que mais utiliza. “Eu só arranco de um lado. Eu sou canhota e arranco do lado esquerdo”, contou.
Segundo a dermatologista, as doenças podem atingir crianças quando, por exemplo, os pais estão se divorciando. Ela disse ainda que no caso dos menores é necessário contar com a ajuda dos professores, já que eles podem arrancar e até comer o cabelo na escola. “No adulto ela é mais grave do que na criança, talvez porque o adulto carrega um estresse maior. Na criança ela pode sumir sozinha com o passar dos anos”, afirmou.
As pessoas que têm tricotilofagia, além de realizarem tratamento com um psicólogo e um dermatologista, precisam procurar um gastroenterologista, pois os fios de cabelo, ao serem ingeridos, formam um bolo denominado "tricobezoar". “Um fio de cabelo vai enrolando com o outro e formam um bolo. Esse tricobezoar impede que a pessoa coma direito, porque o espaço no estômago diminui. A pessoa não consegue comer, mas o apetite continua o mesmo. O cabelo ocupa espaço, por isso ela come menos”, explicou o gastroenterologista Silvio Demetrio Pavan Capparelli.
Em alguns casos, Capparelli explicou que é necessário abrir o estômago parar tirar o bolo de cabelo e em outros, o tricobezoar pode ser removido no exame de endoscopia. “Quando a pessoa come muito cabelo, ela fica desnutrida e nem sempre tem como tirar o cabelo por endoscopia. Quando forma-se um bolo muito grande não tem como tirá-lo naturalmente, sem cirurgia”, ressaltou.