Mandela ‘inspirou a luta no Brasil’, diz Dilma em tributo
Presidente da República foi a 2ª chefe de Estado a discursar na solenidade. Durante a cerimônia, Dilma chamou os sul-africanos de ‘sul-americanos’.Sob os olhares de cerca de 80 mil pessoas, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta terça-feira (10), durante tributo na África do Sul, que o exemplo do líder negro Nelson Mandela inspirou o Brasil e a América do Sul. Segundo Dilma, Mandela foi “a personalidade maior do século 20″.
“Trago aqui o sentimento de profundo pesar do governo e do povo brasileiro e, tenho certeza, de toda a América do Sul pela morte desse grande líder Nelson Mandela. O apartheid que Mandela e o povo derrotaram foi a forma mais elaborada e cruel da desigualdade social e política que se tem notícia nos tempos modernos. [Mandela] Inspirou a luta no Brasil e na América do Sul. Madiba, como carinhosamente vocês o chamam, constituiu exemplo de referência para todos nós, pela histórica paciência com que suportou o cárcere e o sofrimento”, disse Dilma.
Falando em nome do continente sul-americano, Dilma foi a segunda chefe de Estado a discursar na cerimônia que lotou o estádio Soccer City, em Johanesburgo, palco da final da Copa do Mundo de 2010. O ato na arena de futebol marca o início dos cinco dias de homenagens a Mandela, até seu funeral, que ocorrerá somente no domingo (15).
A presidente brasileira discursou durante oito minutos no Soccer City com o auxílio de um tradutor. Em meio à manifestação de pesar pela morte de Mandela, Dilma cometeu um ato falho, referindo-se aos sul-africanos como “sul-americanos”.
“O governo e o povo brasileiro se inclinam diante da memória de Nelson Mandela. Transmito à senhora Graça Machel [viúva de Mandela], aos seus familiares, ao presidente [Jacob] Zuma e a todo o povo sul-americano, sul-africano, nosso profundo sentimento de dor e de pesar. Viva Mandela para sempre!”, confundiu-se a presidente brasileira.
Símbolo da luta contra a discriminação racial, Nelson Mandela morreu na quinta-feira (5), em Pretória, aos 95 anos. O corpo do vencedor do prêmio Nobel da Paz de 1993 será enterrado, de acordo com seu desejo, na aldeia de Qunu, localizada na província pobre do Cabo Leste, onde ele cresceu.
Autoridades de todos os continentes viajaram à África do Sul para prestar uma última reverência a Mandela. Entre os 91 líderes mundiais que prestigiaram a cerimônia estão os presidentes Barack Obama (EUA), François Hollande (França), Raul Castro (Cuba), o premiê britânico David Cameron e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
O tributo ao ícone mundial da luta pela igualdade racial teve início por volta do meio-dia (8h no horário de Brasília). Ao longo de toda a solenidade, mesmo sob intensa chuva, as milhares de pessoas que lotaram as arquibancadas cantaram e dançaram para reverenciar o ex-presidente.
A viúva de Mandela, Graça Machel, demonstrou muita emoção ao chegar à arena. Winnie Mandela, ex-mulher do líder negro, foi ovacionada ao ter seu nome anunciado pelo sistema de alto-falantes do estádio.
Dilma começou a discursar pouco antes das 14h (10h no horário de Brasília). Ao se posicionar no púlpito coberto, a presidente do Brasil foi intensamente aplaudida pelo público. Ela destacou no pronunciamento que a nação brasileira, que traz com “orgulho” o sangue africano nas veias, “chora e celebra” o exemplo do líder que “faz parte do panteão da humanidade.
“Sua luta [de Mandela] transcendeu suas fronteiras nacionais e inspirou homens e mulheres, jovens e adultos, a lutarem por sua independência e pela justiça social. Deixou lições não só para seu querido continente africano, mas para todos aqueles que buscam a liberdade e a justiça e a paz no mundo”, destacou.
Autoridades
Homem mais poderoso do mundo, Barack Obama foi o primeiro presidente a discursar na cerimônia. Filho de um africano do Quênia, o chefe do Executivo norte-americano fez um breve resgate da trajetória de Mandela ao começar seu pronunciamento. Na visão de Obama, Mandela foi um “gigante da história”, que moveu bilhões pelo mundo.
Emocionado, ele lembrou da luta do ex-presidente contra o apartheid, os 27 anos em que o sul-africano passou na prisão e a gestão dele à frente do país, na década de 1990.
“Aos povos de todas as raças, o mundo agradece a vocês por compartilharem Nelson Mandela conosco. A luta dele era a luta de vocês, o triunfo dele foi o triunfo de vocês”, enfatizou Obama.
“É tentador lembrar de Mandela como um ícone sorrindo, sereno, descompromissado com os problemas normais dos seres humanos, mas ele transcendeu isso. Em vez disso, Madiba insistiu em compartilhar conosco suas dúvidas, sua fé, seus erros de cálculo, junto com suas vitórias”, completou o presidente dos EUA, ovacionado pelas arquibancadas do estádio.
Para o presidente da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, a África do Sul perdeu um “herói”. Já o mundo, ressaltou o dirigente da ONU, “perdeu um mentor”. “Nelson Mandela foi um dos maiores líderes de nosso tempo, um de nossos maiores professores”, complementou.
O tributo a Mandela foi transmitido em telões instalados em outros três estados de Johanesburgo e em mais 150 locais em toda a África do Sul. O ato também foi transmitido pela televisão para dezenas de países.
Comitiva brasileira
Acompanhada de quatro ex-presidentes da República, Dilma dembarcou na madrugada desta terça em Johanesburgo. Viajaram ao lado da atual chefe do Executivo os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Fernando Collor de Mello e José Sarney.
A comitiva presidencial partiu para o continente africano da base aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, no início da tarde desta segunda. Antes de embarcar, Dilma escreveu em sua conta no microblog Twitterque o Estado brasileiro havia se unido para “honrar Mandela”.
O ex-presidente da África do Sul ficou internado de junho a setembro devido a uma infecção pulmonar. Ele havia deixado o hospital e estava em casa.
O corpo do vencedor do prêmio Nobel da Paz de 1993 será enterrado, de acordo com seu desejo, na aldeia de Qunu, localizada na província pobre do Cabo Leste, onde Mandela cresceu. Os restos mortais de três de seus filhos foram sepultados no mesmo lugar, em julho, após ordem judicial.
Conhecido como “Madiba” na África do Sul, nome pelo qual sua tribo é conhecida, Mandela foi considerado um dos maiores heróis da luta dos negros pela igualdade de direitos no país. Ele foi um dos principais responsáveis pelo fim do regime racista do apartheid, uma política de governo que se estendeu por 45 anos e regulamentava a segregação entre brancos e negros.