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Domingo, 24 de Novembro de 2024

Ex-colegas disputam a presidência do Chile em 'eleição das mulheres'

17/11/2013

Passados 40 anos do golpe militar que levou Augusto Pinochet ao poder, o Chile realiza neste domingo (17) uma eleição presidencial dominada por mulheres - duas delas, as principais candidatas ao cargo máximo do país, com um passado comum marcado pela ditadura. A favorita Michelle Bachelet, que tenta um segundo mandato no país pela coalizão esquerdista "Nueva Mayoría", uma extensão da "Concertación Democrática", enfrenta com relativa folga, segundo as pesquisas, a economista Evelyn Matthei, a tardia opção da direita.

As duas passaram parte da infância juntas, em um condomínio para membros da Força Aérea no norte do país. Seus pais eram grandes amigos, até que a ditadura os colocou em lados opostos: Alberto Bachelet foi preso, torturado e morto, enquanto Fernando Matthei se aliou à junta militar de Pinochet.

Na atual corrida pela presidência, as criticas de ambas as ex-colegas são sutis. Em agosto de 2012, a mãe de Bachelet disse que o general Matthei "sempre foi um amigo nosso, eu o estimo muito e tenho certeza de que ele não estava na Academia de Guerra na época em que meu marido esteve lá."

Mas o fato é que Bachelet tem a vitória quase certa, segundo os institutos de pesquisa e os analistas, nessa que será a primeira eleição presidencial em que o voto não será obrigatório no país.

"Os chilenos estão pensando mais no futuro do que no passado. Apesar de ter se falado muito nos 40 anos do golpe em setembro, em outubro a campanha se centrou novamente nas promessas de futuro. Bachelet ganhará porque representa uma esperança de mais inclusão no futuro, não por sua história nem seu passado", avalia em entrevista ao G1 o cientista político e professor da Universidade de Nova York Patricio Navia.

No fim do governo de Sebastián Piñera, a candidata conseguiu conquistar o eleitorado com promessas de ambiciosas reformas para mudar, garante ela, o rosto do Chile, um dos países mais estáveis da América Latina, mas com um abismo entre ricos e pobres. Sua ampla reforma tributária pretende arrecadar US$ 8,2 bilhões adicionais mediante a elevação dos impostos às empresas, "sem a qual se torna inviável considerar o conjunto de transformações propostas", segundo ela.

De acordo com Navia, Bachelet faria um governo muito parecido com seu último mandato, anterior ao do atual presidente direitista Sebastián Piñera. "Bachelet foi exitosa em seu primeiro governo. Se sua estratégia funcionou uma vez, voltará a tentar. Agora ela promete umas reformas novas, como educação gratuita, mas também disse que será um objetivo de longo prazo. Não haverá educação gratuita em 2014. [...] Será um governo de reformas graduais, não de mudanças revolucionárias."

A amiga-rival
Casada e mãe de três filhos, Matthei iniciou a militância política no partido Renovação Nacional, onde integrava um grupo conhecido como "Patrulha Jovem", do qual também atuava o atual presidente Sebastián Piñera.

Ambos eram jovens promessas de renovação da direita chilena pós-ditadura, mas tudo foi comprometido por um escândalo de escutas telefônicas em 1992 que os envolveu diretamente, no momento em que eles tentavam ser candidatos presidenciais.

Após o escândalo, as aspirações de ambos foram sepultadas. O episódio a distanciou de Piñera por mais de 20 anos, até que, depois de chegar à presidência (em 2010), ele decidiu inclui-la em seu gabinete, obrigando-a a deixar seu posto no Senado.

Como ministra do Trabalho, Matthei ganhou destaque por sua defesa dos trabalhadores, por sua personalidade forte e pelos ásperos confrontos com parlamentares.

"Evelyn Matthei não era a melhor candidata da direita. Sua candidatura foi possível porque os candidatos Laurence Golborne primeiro e Pablo Longueira depois tiveram que renunciar.  Matthei foi a melhor candidata que a direita encontrou quando não tinham tempo para buscar mais alguém. Desde o primeiro dia, se sabia que seria uma candidatura difícil, mas não é culpa de Matthei. Ela é mais um sintoma dos problemas da direita do que uma causa", disse Pedro Navia.

A candidata musa
Camila Vallejo é outra surpresa dessas eleições. A ex-líder dos protestos estudantis que explodiram no país em 2011 lançou-se candidata pelo distrito de La Florida (sul de Santiago) pelo Partido Comunista e, contrariando o que sempre havia dito, apoia agora a candidata da coalizão esquerdista, Bachelet.

"A candidatura de Camila Vallejo é uma boa mostra da renovação dos quadros políticos que a política chilena precisa. [...] Este tipo de candidatura pode servir para diminuir a insatisfação de um setor de chilenos, em sua maioria jovens, que não votam porque não se sentem identificados com nenhum partido ou líder. Mas também é certo que alguns setores do movimento estudantil podem ver esta candidatura como a institucionalização dos protestos e da entrada no "sistema" de alguém que até agora o criticava enormemente", explicou ao G1 Leticia M. Ruiz Rodríguez, especialista em Chile e professora da Universidade Complutense de Madri.

Os 120 assentos da Câmara dos Deputados serão renovados nesta eleição, assim como 20 dos 38 postos do Senado.

Além de Bachelet e Matthei, outros sete candidatos disputam a presidência, quantidade inédita na história eleitoral chilena.

Segundo a agência Reuters, o primeiro boletim oficial dos resultados será divulgado quando a apuração estiver em 20% ou perto das 19h30 (20h30 em Brasília). O segundo deve sair quando a contagem de votos atingir 60%, ou por volta das 21h15 do domingo.