Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Quarta, 27 de Novembro de 2024

Boeing tenta salvar imagem do 787

22/03/2013

 

Enquanto testa soluções para as baterias dos seus 787 Dreamliners, a Boeing Co. tem pela frente o desafio de convencer os passageiros de que será seguro viajar no jato depois que ele retomar os voos comerciais.
 
Como parte desse esforço, a empresa está enviando pesquisas para passageiros frequentes, entusiastas da aviação e outros para avaliar as percepções sobre o Dreamliner.
 
Mas especialistas em segurança dizem que parte da estratégia de relações públicas da fabricante americana de aviões, que é sediada em Chicago, consiste em minimizar a gravidade dos incidentes em que as baterias de íons de lítio do 787 pegaram fogo e que levaram à suspensão dos voos do avião, há cerca de nove semanas.
 
As iniciativas anunciam um novo capítulo na novela do 787. Os testes do redesenhado sistema da bateria de íons de lítio, iniciados neste mês, parecem estar indo bem e pessoas a par da situação dizem que os reguladores dos Estados Unidos poderiam aprovar as soluções já no fim do mês, mesmo que os investigadores ainda não saibam exatamente o que causou as falhas das baterias.
 
Mas a retomada dos voos comerciais no início de abril põe pressão na Boeing e nas companhias aéreas que usam o 787 para convencer o público de que as soluções são suficientes, embora as causas dos incidentes permaneçam um mistério.
 
"Creio não haver dúvidas de que temos um avião que enfrentou alguns desafios, e que esses desafios foram bastante noticiados", disse Randy Tinseth, diretor de marketing, na semana passada. "O que temos que fazer é assegurar que todos que, de alguma forma, tocarem nele realmente entendam" as vantagens do 787.
 
O porta-voz Marc Birtel disse que, embora a Boeing esteja concentrada nos testes, estão sendo preparadas iniciativas de marketing "para responder às necessidades dos nossos clientes e passageiros" quando o 787 voltar a voar. Birtel disse que as pesquisas foram ampliadas nos últimos meses e que as respostas continuarão confidenciais, mas que a Boeing planeja compartilhar conclusões para ajudar as companhias aéreas que compraram o Dreamliner a elaborar seus próprios planos de marketing.
 
Executivos da Boeing sustentam que estão divulgando dados factuais sobre o comportamento de baterias ao longo dos anos e que estão em linha com o Conselho de Segurança do Transporte, que vem liderando a investigação nos EUA sobre os problemas com a bateria do 787. Num comunicado separado feito por email, a Boeing afirmou que "reconhece a gravidade dos eventos e que isso vem se refletindo nas ações e pronunciamentos da empresa".
 
As declarações recentes da Boeing sobre a natureza dos incidentes com as baterias parecem ser parte da estratégia.
 
Especialistas em aviação costumam classificar ocorrências com fumaça e fogo entre os maiores riscos para a segurança dos aviões. Em fevereiro, a presidente do conselho de segurança, Deborah Hersman, disse que "a expectativa é que nunca haja um incêndio dentro de uma aeronave".
 
Desde o princípio, a Boeing afirmou que qualquer sinal de fogo num avião é um caso sério. Mas, nas duas coletivas de imprensa da semana passada, executivos do alto escalão da empresa forneceram descrições diferentes ao discutir os problemas na bateria do 787. Mike Sinnett, o diretor de engenharia, disse a repórteres que, "nos últimos dez anos, houve milhares e milhares" de defeitos nas baterias de aviões comerciais, fazendo dessas ocorrências uma realidade da operação das aéreas. Ele acrescentou que "muitas delas resultaram em fumaça ou fogo".
 
Alguns observadores veem um conflito. "Eles decidiram ir diretamente contra a NTSB [o conselho de segurança]", disse Michael Barr, professor de segurança da aviação na Universidade da Califórnia do Sul. "Menosprezar o risco inicial geralmente não é uma boa abordagem."
 
Na semana passada, o diretor-presidente da Boeing Commercial Airplanes, Ray Conner, manifestou confiança na segurança do Dreamliner e prometeu viajar no primeiro voo comercial do jato.
 
Na pesquisa da Boeing, os passageiros são perguntados se concordam com a afirmação: "Eu ativamente vou evitar voos no Dreamliner". Os questionários on-line pedem três palavras que vêm à mente em conjunto com o Dreamliner. A empresa também tem como alvo navegantes curiosos da web. Nas buscas por termos como "Fogo Dreamliner" ou "baterias 787" no Google, o primeiro item nas respostas é um link patrocinado que leva à página "FAA aprova Plano Boeing." Lá, há detalhes das alterações que a Boeing fez nas baterias.
 
Hayes Roth, da consultoria de marca Landor Associates, diz que a Boeing tem a seu favor a memória curta do público. "Se o Dreamliner tiver um problema maior, então seria diferente", diz ele, mas até agora o caso tem sido "um tema de atualidade [...]. Ele não é interessante para sempre."