Aéreas buscam retomada após amargar ano turbulento
18/12/2012
A queda na demanda tradicionalmente registrada na primeira metade do ano pelas companhias aéreas terá ao menos uma utilidade em 2013. “Devemos aproveitar esse período para debater e resolver uma série de questões que pode influenciar os resultados do setor não só no próximo ano”, afirma Eduardo Sanovicz, presidente da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear), entidade que reúne as cinco maiores companhias de aviação do país — Avianca, Azul, Gol, Tam e Trip.
Entre os assuntos que deverão entrar na pauta das empresas nos primeiros seis meses do ano, os destaques são o preço dos combustíveis e as questões de infraestrutura. “Quando formos enfrentar o segundo semestre, uma vez que esses temas tenham sido debatidos, podemos ter um ano de melhor crescimento”, afirma Sanovicz. “Por isso podemos olhar para 2013 com um leve otimismo.”
Em novembro deste ano, o querosene de aviação representou 42% dos custos das empresas do setor, segundo a Abear. A média histórica é de pouco menos de 30%. “Não faz mais sentido precificar o combustível como se ele fosse todo produzido no exterior, quando esse não é mais o quadro”, diz Sanovicz.
Outro ponto que estará nas mesas de debate das empresas do setor é a questão da infraestrutura aeroportuária. “Temos que aproveitar esse semestre mais fácil para discutir e endereçar esses temas ao governo”, afirma o executivo. “Estamos animados, porque nos últimos tempos a receptividade às nossas demandas tem sido boa.”
Ao levar esses temas para o governo as companhias aéreas buscam atacar questões que afetam diretamente seus custos. A importância dos assuntos é maior conforme o mercado consumidor aumenta e fica mais sensível ao preço. “No Brasil, o fato de as aéreas concorrerem com as empresas de ônibus, torna o consumidor ainda mais volátil a esse aspecto”, diz Felipe Queiroz, analista do setor de aviação da Austin Rating.
Segundo a Abear, estudos apontam que a cada 10% que o preço da passagem fica maior, as empresas do setor perdem 14% dos consumidores. No passado, antes da massificação das viagens de avião, os mesmos 10% de reajuste acarretavam na perda de apenas 7% dos clientes. “Temos uma margem cada vez maior de consumidores dependentes do preço da passagem para decidir pela viagem ou não”, afirma Adalberto Febeliano, consultor técnico da Abear. “O modal aéreo foi incorporado à vida das pessoas.”
Aeroportos regionais
Na área da infraestrutura, o anúncio feito pela presidente Dilma Rousseff, na última quarta-feira, de que o governo planeja 800 novos aeroportos regionais é visto com ressalvas pela Abear. “Ainda não fomos consultados, nem informalmente, então não sabemos o que está realmente nos planos do governo”, diz Sanovicz. “Mas, a princípio, a ideia é boa. Quanto mais aeroportos melhor para o setor e para a população.”
Gol e Avianca vivem momentos bem distintos
Definitivamente o ano de 2012 não foi nada fácil para os executivos da Gol. Não bastassem os prejuízos sucessivos, a troca de presidente e o conturbado encerramento da marca Webjet, adquirida em julho de 2011, a companhia aérea comandada por Paulo Kakinoff foi a que mais perdeu market share entre novembro de 2011 e o mesmo mês deste ano. A Gol viu sua participação no mercado de aviação doméstica — somada aos números da Webjet — sair de 42,5% há um ano para os 35,6% no mês passado, segundo os dados da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) e da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).
Situação bem diferente vive a Avianca. Por mais que ainda ocupe um modesto quarto lugar entre as maiores companhias aéreas brasileiras, a empresa presidida por José Efromovich foi a que obteve maior crescimento proporcional em sua participação no mercado doméstico entre novembro de 2011 e o mês passado. Há um ano, a Avianca transportou 3,5% dos passageiros que voaram entre cidades brasileiras. Em novembro deste ano, a participação da companhia no mercado de aviação doméstica subiu para 6,4%.
Setor
De uma maneira geral, o setor de aviação viu uma menor demanda no mês de novembro do que o registrado em outubro pela Abear. A retração na quantidade de passageiros transportados foi de 2,35%.
Apesar disso, as companhias conseguiram aumentar suas taxas de ocupação ao longo do mês. Em outubro, o índice era de 73,7%e no mês passado cresceu para 76,3%. “Apesar da queda na demanda, as companhias realizaram uma redução ainda maior na oferta, o que gerou esse quadro”, afirma Eduardo Sanovicz, presidente da Abear.
A estratégia é uma forma encontrada pelas empresas de melhorar a rentabilidade. “Aviões mais cheios ajudam a evitar outras formas de corte de custos, como demissão de pessoal, ou o aumento dos preços”, diz Felipe Queiroz, analista de aviação da Austin Ratings.