Gol renegocia limite de alavancagem com bancos
07/12/2012
Pelo segundo ano consecutivo, a Gol pediu perdão ("waiver", no jargão do mercado) ao Banco do Brasil e ao Bradesco por extrapolar limite de alavancagem contratual de duas emissões de debêntures privadas, que juntas totalizam R$ 1,1 bilhão. Edmar Lopes, diretor financeiro da Gol, disse acreditar que a empresa será bem-sucedida na negociação com os bancos: "Nossa perspectiva é positiva".
No ano passado, a Gol também descumpriu patamares de endividamento estabelecidos com BB e Bradesco, e conseguiu o "waiver" dos dois bancos. Lopes preferiu não divulgar as cláusulas de renegociação ("covenants") das debêntures. Disse que o perfil de amortização da dívida da Gol é "adequado" e a alta alavancagem hoje é mais reflexo do resultado operacional (Ebit) - negativo em R$ 200 milhões no acumulado de 2012 - do que do endividamento da Gol. A dívida líquida, ao fim do terceiro trimestre, era de R$ 3,54 bilhões. Lopes disse que haverá uma pressão de vencimentos (de compromissos financeiros) em 2015.
Em encontro com analistas e investidores ontem, em São Paulo, Paulo Kakinoff, presidente da Gol, afirmou que prevê um cenário estável para o setor aéreo em 2013, com espaço para recuperação da margem operacional da Gol.
Para Kakinoff, o ano de 2012 foi historicamente o pior para o setor, com a ação conjunta de quatro fatores: preço dos combustíveis em alta, desvalorização do real frente ao dólar, aumento das tarifas aeroportuárias e desaceleração da economia.
Entre as adversidades, o elevado preço do querosene da aviação é o problema de maior impacto negativo nos resultados da Gol, disse Kakinoff. Nos nove primeiros meses do ano, a despesa com combustível representou cerca de 43% do total dos custos da Gol. Com intuito de melhorar a interlocução com o governo para, entre outras demandas, pleitear redução na carga tributária, as aéreas Gol, Tam, Avianca, Webjet (extinta pela Gol neste mês), Azul e Trip criaram a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).
Segundo Kakinoff, o ICMS é o tributo com maior peso no encarecimento do combustível. "A sensibilização dos Estados em relação a esse tema é crescente. Mas não arrisco prever quando a discussão vai se refletir em uma medida efetiva", afirmou.
Para melhorar a sua rentabilidade operacional, a Gol aposta na redução da oferta de assentos. O objetivo é melhorar a taxa de ocupação, com corte na frequência dos voos sem eliminar destinos.
Para o primeiro semestre do próximo ano, a companhia diminuirá entre 5% e 8% a disponibilidade de assentos. Ao longo deste ano, a política de redução de oferta resultou num aumento entre 3% e 4% na taxa de ocupação por mês da Gol. "Há potencial para, no curto prazo, o indicador crescer a dois dígitos", diz Kakinoff.
De acordo com o executivo, a Gol "não vai ceder à tentação de acelerar o crescimento do 'load factor' [taxa de ocupação], em detrimento da recuperação dos 'yields'". O "yield" mede o valor médio que o passageiro paga para voar um quilômetro. Nos nove primeiros meses deste ano, o indicador ficou estável em relação ao mesmo período do ano passado.
Sobre as negociações com ex-funcionários da Webjet, demitidos pela Gol neste mês, a companhia aérea informou ontem que uma reunião foi marcada para a próxima quarta-feira, dia 12 de dezembro, com o Ministério do Trabalho.
Em 23 de novembro, a Gol demitiu 850 trabalhadores, entre tripulação técnica, tripulação comercial e manutenção de aeronaves, como parte do processo de encerramento das atividades e da marca da controlada Webjet.
Desde então, patrões e ex-funcionários travam um embate. O ministro do Trabalho, Brizola Neto, recebeu representantes dos demitidos e mostrou preocupação com o corte na companhia aérea Webjet, comprada pela Gol em agosto do ano passado.
Kakinoff, foi chamado por órgãos do governo, como a Secretaria de Aviação Civil. Mas manteve a posição da empresa. Descartou a possibilidade de reverter sua decisão de fechar a Webjet.