Aviação pesquisa biocombustíveis
23/11/2012
Um desafio ronda o setor de aviação. O crescimento do tráfego aéreo dobrou a cada quinze anos nas três últimas décadas e deve manter essa taxa de expansão até 2025. Seria uma boa notícia se não fosse acompanhada de um aumento dos gastos, principalmente com combustível. Hoje, pelo menos 40% dos custos totais das empresas aéreas têm relação com a compra de energia, que representam 2% das emissões de dióxido de carbono resultantes da atividade humana, sendo 80% relacionados a voos de passageiros superiores a 1,5 mil quilômetros.
Diante disso, a prioridade dos fabricantes de aviões é obter a máxima eficiência operacional de suas aeronaves, por meio do desenvolvimento de motores que consumam menos combustível e otimizações aerodinâmicas, envolvendo estruturas e ligas metálicas mais leves no projeto dos jatos. “Apesar do crescimento do setor nestes últimos anos, isso resultou em aumento do consumo de combustível de apenas 3% nos últimos dez anos”, afirma Rafael Alonso, vice- presidente executivo da Airbus para a América Latina e Caribe.
Alonso veio ao Brasil no início do mês quando chamou a atenção sobre o interesse da empresa no país, considerado o quarto maior mercado mundial em oferta de assentos em aeronaves. Na ocasião, ele também falou sobre o esforço das fabricantes para trabalhar com governos e companhias aéreas e melhorar mais a performance das aeronaves, incluindo a pesquisa de combustíveis alternativos aos derivados de petróleo. “Nossa meta é neutralizar as emissões de carbono até 2020, melhorando a eficiência dos combustíveis em 1,5% ao ano e cortando as emissões de CO2 pela metade até 2050, comparada aos níveis de 2005.”
As pesquisas visam ainda obter um tipo de biocombustível produzido a partir de biomassas sustentáveis, que não contribuam para o desmatamento e sem competição com o cultivo de alimentos. Para isso, Alonso diz que mais de 90% dos investimentos da Airbus Research & Technology são feitos no desenvolvimento de novas tecnologias, incluindo biocombustíveis e implantação de um gerenciamento de tráfego aéreo que combine o aumento da demanda com a redução do impacto ambiental.
No caso dos biocombustíveis, a estratégia da Airbus é promover cadeias produtivas de alternativas regionais, porque a empresa acredita em soluções múltiplas de matérias-primas (gás natural, camelina, pinhão manso, algas, resíduos orgânicos). Para isso, estabelece parcerias com as companhias aéreas que por sua vez se comprometem, junto com refinarias, a comprar as colheitas de fazendeiros locais. Até agora, foram estabelecidas parcerias no Brasil, com a TA M ; no Oriente Médio com a Qatar; na Romênia, com a Ta r o m ; no México, com a Interjet; e na Espanha, com a Iberia. No caso da TAM, que realizou o primeiro voo experimental com um Airbus 320, em 2010, foi usada uma mistura de óleo de pinhão manso e querosene convencional.
Em todo o mundo, foram realizadas mais de 300 voos experimentais e de demonstração voltados para o uso de biocombustíveis em aviação. Lufthansa, KLM, Thomson, Finnair, Aeromexico e Iberia utilizam até 50% de combustível feito a partir de matérias-primas oleaginosas em algumas rotas. As matérias-primas incluem algas, resíduos, camelina (matéria-prima da canola) e plantas que crescem em água salgada. Este ano, a Airbus criou uma nova cadeia de valor com a Virgin Australia para desenvolvimento de um combustível obtido por pirólise a partir de uma espécie de eucalipto, que seria usado pela primeira vez na aviação civil.
A Airbus trabalha com a Comissão Europeia, linhas aéreas e fabricantes do continente para desenvolver um roteiro europeu Flightpath visando a produção anual de 2 milhões de toneladas de biocombustíveis no setor da aviação até 2020, o que representa cerca de 4% do consumo da União Europeia. E criou o desafio mundial Fly Your Ideas, com apoio da Unesco, aberto a estudantes de todos os países, voltado para novas ideias de aviação sustentável em vários setores, entre eles, energia, eficiência, crescimento acessível e de volume de tráfego.