Redução da oferta de passagens pelas empresas aéreas deve elevar preços
31/10/2012
Com a oferta e a demanda de voos domésticos se movendo para lados opostos em setembro, os preços das passagens aéreas podem aumentar. Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a procura aumentou 7,65% e a número de passagens disponíveis caiu 2,13% no mês passado. O descasamento entre os números deve pressionar as companhias aéreas a repassar perdas, afirmam especialistas.
"Eu acho que vamos ter um aumento de preços. O preço vem caindo consistentemente nos últimos anos, mas atingimos um limite", avalia o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Jorge Leal, que aponta a elevação do preço do combustível de aviação e a desvalorização do real como principais causas do prejuízo das companhias. "Vai ter que passar para o consumidor, mas acho que vai ser pontual. As companhias sabem que tem uma competição."
Na semana passada, a TAM anunciou o setor precisaria reajustar as passagens em 10% para fazer frente aos aumentos de custo e recompor as perdas. Mesmo assim, analistas do setor aéreo avaliam que as companhias não conseguem repassar esses custos, por causa da grande competitividade entre as empresas e pela alta sensibilidade aos preços dos novos passageiros, que não conseguiriam incorporar aumentos aos seus orçamentos e deixariam de viajar.
Sem conseguir repassar o custo maior, as empresas começam por reduzirem a oferta para ter maior aproveitamento da aeronave, como apontam os dados da Anac, e tentar sair do vermelho. A evolução maior da demanda do que da oferta fica evidente nas taxas acumuladas no ano. De janeiro a setembro, a demanda acumulada cresceu 7,30%, ao passo que a oferta aumentou 5,52%, em relação ao mesmo período de 2011.
Para Elton Fernandes, professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a queda da oferta mostra uma “racionalização” dos custos. O professor não acredita que o próximo passo seja o aumento do valor das tarifas aos passageiros.
"Isso não é assustador (a queda da oferta). Acho que a indústria não teria dificuldade de ofertar mais. Ela só precisa racionalizar para obter lucro. É um equilíbrio", diz Fernandes. "As empresas estavam com oferta grande e preços muito baixos. A tendência é reduzir a oferta. Mas, de certa forma, acho que os preços subiram porque as empresas estavam tendo prejuízo. O custo é muito alto no Brasil, e o combustível é 40% do custo."
Com a redução da oferta, a taxa de ocupação cresce, com menos assentos vazios nos voos. Segundo a Anac, a taxa de ocupação dos voos domésticos de passageiros alcançou 75,57% em setembro de 2012 - também recorde na série histórica da Anac, que começa em 2000 - contra 68,71% no mesmo mês de 2011. De janeiro a setembro, a taxa de ocupação cresceu 1,69%, para 72,01%. Para Fernandes, esse patamar de ocupação não compromete o serviço aos passageiros, e propicia maior lucratividade para as empresas.
"As companhias estavam com índice de ocupação muito baixo. Isso era resultado de uma competição quase predatória, de um não querendo deixar o outro ter crescimento. Se subir muito acima de 80% é que começa a ter restrição de oferta, e aí que é um problema", afirma Fernandes, que avalia, porém, que o passageiro pode sentir essa redução da oferta não em aumento de preços, mas nas condições da viagem. "Pode ser que você chegue lá e o avião esteja mais lotado, o aeroporto estar mais cheio. Tem mais gente para embarcar. Se isso sobe demais, aí pode impactar. Mas 80% não é taxa ruim, nem para a empresa."
Leal aponta que a redução da oferta não é a regra no setor, com as empresas com menor participação de mercado crescendo. De acordo com a Anac, a Avianca aumentou sua oferta em 56,40%, Azul em 22,03%, e a Trip, em 26,83%, em setembro ante mesmo mês de 2011. Por outro lado, a TAM reduziu sua oferta em 5,17%, e a Gol em 11,46%, na mesma análise. As duas empresas são responsáveis por 74,05% do mercado total.
Nos voos internacionais, a elevação do dólar frente o real reduziu a busca dos passageiros por viagens para outros países. A demanda caiu 2,43% em setembro e oferta se retraiu 2,66% ante setembro do ano passado. No ano, houve redução de 0,12% na demanda e de 2,12% na oferta, ante o mesmo período de 2011.