Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Terça, 26 de Novembro de 2024

Só a TAM possui equipamento para remover avião que fechou terminal de Viracopos

16/10/2012

 

Em meio ao caos aéreo que se instalou no país ontem, reflexo do acidente com um cargueiro da americana Centurion no aeroporto de Viracopos (Campinas) e problemas no sistema de check-in da TAM, falhas na execução do plano de emergência do setor vieram à tona: a dependência de uma única empresa para remover aeronaves avariadas da pista de pouso e decolagem — entre as aéreas em operação, apenas a TAM detém os equipamentos de resgate no Brasil — e a demora na reação das autoridades, que só se reuniram para discutir o acidente em Viracopos na segunda-feira pela manhã. O avião tombara na pista às 19h55m do último sábado.
 
O resultado foi mais um dia de atrasos e cancelamentos de voos, com filas intermináveis nos principais aeroportos do país. Até as 21h de ontem, 20,7% ou 505 das 2.438 das partidas domésticas programadas até aquele horário haviam saído fora do horário previsto. Entre os principais aeroportos, Brasília e Congonhas (SP), dois importantes centros de distribuição de voos da TAM, registravam os maiores índices de atraso, com 30,4% e 25,1%, respectivamente. Ao longo do dia, a situação de Congonhas foi ainda pior: até 12h, 34% das decolagens estavam atrasadas. A TAM respondeu por quase metade dos voos nacionais atrasados até 21h de ontem: 48% do total. Em Viracopos, o segundo mais importante em termos de movimentação de cargas no país, a pista só foi liberada no fim da tarde, quase 46 horas depois do pouso malsucedido do cargueiro, deixando um total de 495 voos cancelados e pelo menos 40 mil passageiros no chão.
 
Dos voos cancelados em Viracopos, 450 eram da Azul, responsável por 85% das rotas no terminal. A empresa estimou ainda um prejuízo de “dezenas de milhões” de reais por dia e admite que, para recuperar esse valor, pode processar a dona do avião. As operações foram retomadas às 17h35m, mas a expectativa é que todos os atrasos só serão eliminados até quinta-feira. A Azul disse ter cancelado a venda de novas passagens até o fim da semana.
 
O acidente com o MD-11 da Centurion, que partiu de Miami (EUA) carregado com 67 toneladas de eletrônicos e produtos manufaturados, aconteceu às 19h55m do sábado passado. Durante a aterrissagem, um dos pneus estourou e o avião só parou depois de arrastar a turbina esquerda pela pista. O Código Brasileiro de Aeronáutica diz, em seus artigos 90 e 91, que a aérea que causou o acidente deve arcar com as despesas da retirada do avião da pista e que, caso “não disponha de recursos técnicos ou não providencie tempestivamente a remoção da aeronave ou de seus restos, a administração do aeroporto encarregar- se-á dessa providência”, cobrando da aérea pelo serviço prestado.
 
Como a Centurion não dispunha dos equipamentos, a operação de retirada do avião só começou na noite de domingo, após a empresa ter acertado o aluguel de equipamentos da TAM reunidos no chamado de recovery kit. Este é composto de três veículos e um colchão de ar, usado para levantar aeronaves sem danificar a fuselagem. A TAM, segundo a Infraero, é a única a dispor desses equipamentos no país. A Varig também tinha um kit, mas, com a falência da companhia, ele foi leiloado no início deste mês.
 
— A Infraero não precisa ter os equipamentos, mas precisa ter uma lista com fornecedores que os disponibilizem em tempo hábil para liberar a pista — diz Ronaldo Jenkins, diretor de operações e segurança de voo da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).
 
Os equipamentos da TAM vieram de São Carlos, no interior paulista. A primeira tentativa, no entanto, não deu resultado e o equipamento teve de ser trocado. Uma nova máquina chegou em Viracopos na manhã de ontem. No começo da tarde, a aeronave já estava erguida e alinhada, mas ainda não tinha sido movida de lugar. Em nova manobra, o cargueiro foi levado para uma pista lateral e, posteriormente, para uma “Taxiwai”, uma faixa de pista utilizada para taxiar aeronaves.
 
‘HOUVE DEMORA EXCESSIVA’
 
Segundo Iran Duque, gerente de operações da Centurion, a demora na retirada da aeronave se deveu à complexidade da operação.
 
— É um trabalho muito complexo e envolvia combustível.
 
Quanto ao fato de existir apenas um único equipamento de resgate no país e perguntada se teria um “plano B” no caso do recovery kit não funcionar, a assessoria da Infraero afirmou que não existe outro plano, porque “esse tipo de acidente não acontece todo o dia”.
 
Para o ex-presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, “houve demora excessiva” na remoção da aeronave. Ele destacou também o problema da infraestrutura local e a indefinição do governo, até conceder Viracopos, em construir uma segunda pista do aeroporto, que tem espaço para mais duas. Caso existissem duas pistas, o problema seria contornado com facilidades, disse. O aeroporto, com cerca de nove milhões de passageiros por ano, só deve ganhar uma segunda pista em 2017, prevista do edital de licitação.
 
A Azul disse ter oferecido ainda a troca de passagens e o transporte, em ônibus fretados, de passageiros com destinos mais próximos de Campinas, como o Rio, mas o atendimento aos passageiros da Azul foi questionado por vários passageiros ouvidos pelo GLOBO. Indignada com o tratamento da empresa, a secretária Socorro Araújo, que veio de Recife para passar o feriado em Campinas e teve retorno remarcado para as 13h13m de hoje, não se conformava em perder mais um dia de trabalho. Segundo ela, a empresa não ofereceu hotel, alimentação e, muito menos, o pagamento da condução até a casa de parentes onde estava hospedada:
 
— Preciso trabalhar. Já perdi dois dias. Eles (a Azul) só querem me devolver o dinheiro que paguei pela passagem. Com esse valor não tenho como comprar uma passagem de outra companhia. Para isso, tenho que ir para São Paulo ou para o Rio, uma viagem de mais de seis horas de ônibus. Essa é a última vez que embarco pela Azul.
 
A estudante Carolina Ferraz, que mora em Sorocaba (SP), acabou embarcando às 16h de ontem no ônibus oferecido pela Azul para os passageiros que optaram por uma viagem de oito horas até Belo Horizonte.
 
— Já sabia que iria ter problemas para embarcar. Sei que não é culpa da empresa, mas eles poderiam se organizar melhor — disse ela.