Iata vê explosão de custos de aeroportos
02/10/2012
O diretor-presidente (CEO) da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), Tony Tyler, disse que os custos de reforma e ampliação de aeroportos no Brasil para a Copa de 2014 poderão explodir por causa dos atrasos dos últimos anos. Numa coletiva de imprensa sobre a situação do setor aéreo mundial, o executivo deixou claro que há ainda há tempo para que o Brasil faça as obras necessárias.
Porém, Tyler fez um alerta: o problema é que elas ficarão "horrivelmente caras" e o modelo de privatização no País corre o risco de se transformar em um fiasco. Nos últimos meses, a questão do transporte se transformou numa das principais preocupações da Fifa e do Comitê Olímpico Internacional (COI), tanto para a Copa de 2014 como para a Olimpíada de 2016.
"Certamente há tempo para incrementar a infraestrutura de aeroportos para a Copa do Mundo", disse Tyler. "Terminais podem ser construídos de foram relativamente rápida", afirmou, lembrando que o novo terminal do aeroporto de Nova Délhi foi erguido em 36 meses. "Agora, é horrivelmente caro. Mas isso é outro assunto, e certamente há tempo."
O governo prometeu US$ 16 bilhões em investimentos nos aeroportos das cidades que receberão os jogos do Mundial. Para a Iata, porém, esses investimentos são necessários. "Isso é necessário que ocorra, pois os aeroportos brasileiros estão sob imensa pressão hoje e precisam de melhorias", declarou Tyler. "Mesmo que a Copa não ocorresse no Brasil, haveria a necessidade de novos aeroportos", disse.
Dinheiro de volta
O governo vem alegando que está acelerando obras e que as privatizações estão ocorrendo. No primeiro semestre, a primeira leva de privatizações garantiu ao Estado R$ 24,5 bilhões com os aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília. O ágio foi de 347%. Mas, de forma surpreendente para os maiores atores do mercado, os vencedores foram operadoras de tamanho médio, como a Acsa, da África do Sul.
Para a Iata, que reúne 84% das empresas mundiais, a privatização, que poderia ser uma solução, se transformou em parte do problema. A entidade alertou que o valor elevado das concessões poderá acabar sendo pago por companhias aéreas e passageiros, na forma de novas taxas.
"Estamos muito preocupados com modelo de privatização", disse. "O governo vendeu por um valor bem maior do que estimaram e essas empresas que ganharam os contratos vão querer seu dinheiro de volta", alertou o executivo. "Vimos isso ocorrer em outras partes do mundo e é um problema esperando para ocorrer", completou Tyler.
Há poucos meses, o próprio Ministério dos Esportes levantou a possibilidade de usar terminais militares, já que aeroportos civis poderiam não ficar prontos. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, chegou a dizer que a autorização apenas dependia do Ministério da Defesa.
Em maio, um levantamento mostrou que, das 31 obras previstas em aeroportos para a Copa do Mundo da Fifa de 2014, apenas cinco estavam prontas.
Em agosto, o coordenador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos da Silva Campos Neto, chegou a dizer que o ritmo das obras era "preocupante", já que "a grande maioria ainda está em fase de projeto". Segundo levantamento do Ipea, obras nos aeroportos de Porto Alegre, Curitiba, Salvador e Confins (MG) ainda estão em fase de projeto básico. Já a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) executou apenas 18,4% dos investimentos previstos no ano.