Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Terça, 26 de Novembro de 2024

Avianca Brasil puxa crescimento do grupo Synergy no país

01/10/2012

 

Presidente de companhia aérea que fatura R$ 1 bilhão por ano viaja de classe econômica? E almoça com toda a família em restaurantes que custam R$ 30 a refeição? A resposta é sim, quando se fala de José e German Efromovich, controladores da Avianca. 
 
Apesar de a companhia aérea ser conhecida por ser generosa com os clientes - com poltronas mais espaçadas e comida de melhor qualidade do que as concorrentes - os irmão não se furtam quando o assunto é sua conhecida frugalidade na vida pessoal e na administração dos recursos da empresa.
 
O presidente José diz que não se lembra de ter deixado de frequentar um restaurante pelo preço, e afirma que é muito mais conveniente viajar em aviões de carreira. Quando pode, afirma, aproveita para voar na cabine com a tripulação e sondar como está o humor dos funcionários. Da mesma forma, aparecem nos balcões de check-in para saber se está tudo em dia e dar orientações para a correção de eventuais problemas.
 
Com esse estilo de gestão, a Avianca Brasil espera superar R$ 1 bilhão em receita em 2012. Segundo José, a companhia aérea será a principal responsável neste ano pelo crescimento do grupo Synergy, controlado por eles. Em 2011, afirma, a companhia registrou receita de cerca de R$ 840 milhões, o que significa que a alta no faturamento, se alcançada, será superior a 20%.
 
Além da empresa aérea, a dupla de empresários, conhecida pelo estilo de vida sóbrio se comparado ao patrimônio que têm, é dona dos estaleiros Mauá e Eisa, no Rio de Janeiro, e de empresas de serviços de apoio à produção e exploração de petróleo. Mas nenhuma delas cresce no ritmo da Avianca Brasil, diz José. No geral, afirma, o crescimento do grupo no país será de até 15%, o que elevaria o faturamento para perto dos R$ 2 bilhões.
 
O momento de expansão vivido pela companhia aérea é atribuído por quem acompanha o mercado a uma combinação de fatores internos e externos. Uma parte importante da história é o aumento da demanda no mercado nacional. Com a expansão da renda, o número de brasileiros que viaja de avião é maior a cada ano, o que significa a necessidade de mais voos e rotas. Um movimento de mercado que tem sido acompanhado pela Avianca Brasil com a compra e a colocação em operação de novas aeronaves, concentradas na interligação entre capitais.
 
 
Segundo Efromovich, a Avianca Brasil iniciou o ano com 26 aviões e deverá terminá-lo com 34 aeronaves. Parte da expansão se dará com a segunda parte de um lote de 15 Airbus A-318 novos, que deverá ser entregue até o final de dezembro. As primeiras cinco unidades chegaram ano passado e outras cinco deverão chegar neste ano, ficando as demais para 2013.
 
Na avaliação de Respicio Espírito Santo, professor da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista em planejamento estratégico, marketing e inteligência em aviação, em paralelo a Avianca tem conseguido criar uma reputação positiva em serviços, que colocou em marcha “o melhor marketing do mundo, o boca-a-boca”. “A Avianca tem comissárias de bordo mais sorridentes, mais espaço entre as poltronas, alimentação de bordo melhor”, diz. “Mas não necessariamente é a opção mais barata, ou a com os horários mais convenientes”.
 
A percepção é confirmada, ao menos em parte, por levantamento da revista Viagem & Turismo, da Editora Abril, feito para a eleição da melhor companhia aérea do país. Na última edição, em pontualidade e conforto a Avianca Brasil só perdeu para a Azul, a vencedora geral da disputa.
 
Por fim, nos últimos meses, o processo de crescimento da companhia tem sido impulsionado também pela situação das líderes de mercado, TAM e Gol, diz Cláudio Toledo, assessor econômico do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA). As duas companhias entraram em um período de ajustes nos balanços, motivado por prejuízos recentes de centenas de milhões de reais. Como parte do processo, a TAM praticamente estancou seu processo de expansão e a Gol iniciou um programa de enxugamento que inclui cortes de horários e rotas deficitárias.
 
e agosto do ano passado para agosto deste ano, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a participação de mercado da Avianca passou de 3,56% para 5,1%, em número de passageiros transportados. Em números absolutos, o salto no indicador foi de 243,6 mil para 373 mil. Enquanto o mercado todo cresceu 6,72%, o volume de passageiros transportados pela companhia dos Efromovich aumentou 53,11%.
 
“Procuramos nos consolidar nas rotas em que trabalhamos e abrir só um ou dois novos destinos por ano”, afirma José. “Tentamos sempre trabalhar com ocupação superior a 80% onde atuamos”, diz o empresário.
 
Ponta do lápis
 
Bem mais difícil é saber se a expansão da Avianca Brasil se reflete em lucros na mesma proporção para o Grupo Synergy e seus controladores. Tanto o grupo quando a companhia aérea tem capital fechado.
 
A julgar pelo estilo de administração dos irmãos Efromovich, é de se supor que haja ao menos equilíbrio entre receitas e despesas. Ambos são conhecidos pelo estilo de vida e de gestão espartanos. E pela capacidade de retomar empresas em dificuldades financeiras controlando custos. Uma das declarações mais conhecidas de German, o mais velho, dada à agência de notícias Dow Jones, é a de que o segredo não é vender caro, mas comprar barato.
 
Trata-se de uma visão de mundo que leva em conta mais a funcionalidade das coisas do que o que simbolizam. O escritório do grupo Synergy, em São Paulo, por exemplo, não tem luxos. No pequeno jardim que separa a porta de entrada do estacionamento, há plantas mortas e a grama amarelada é mal aparada. As paredes brancas no andar térreo têm marcas de sujeira e é possível identificar pontos de infiltração. Os móveis na sala de José são de fórmica cinza ou marrom. Tudo funciona, nada impressiona.
 
No ritmo de expansão atual, José diz ainda que os 14 Fokker-100 que fazem parte da frota da companhia deverão começar a ser substituídos somente a partir do final do ano que vêm, quando chegar o período de manutenções de grande porte. O modelo de aeronave ficou marcado pelo acidente da TAM, no aeroporto de Congonhas, em 1996.