Gol 1907: parentes criticam falta de punição
01/10/2012
Os parentes das vítimas do voo 1907 da Gol, que caiu há seis anos - no dia 29 de setembro de 2006 - ainda esperam que os dois pilotos americanos, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, considerados culpados pelo acidente, recebam algum tipo de punição pela morte dos 154 passageiros.
Segundo a diretora da Associação dos Familiares e Amigos do Voo 1907, Rosane Gutjahr, as famílias querem que eles cumpram suas penas e sejam impedidos de pilotar novamente.
Dois processos foram instaurados para investigar e julgar os motivos da colisão, o administrativo e o criminal. No primeiro, os pilotos e a empresa ExcelAire, dona da aeronave, foram condenados pela Anac, em última instância, a pagarem uma multa de R$ 3,5 mil para os pilotos e R$ 7 mil para a empresa. Além disso, foi decidido pela cassação do brevê dos pilotos americanos.
No entanto, a FAA (agência relativa à Anac nos EUA) se nega a cumprir essa sentença. Segundo Rosane Gutjahr, o Itamaraty deve ter uma resposta nos próximos dias sobre as medidas que o Brasil deverá tomar perante essa decisão.
“Um acordo bilateral assinado por Brasil e EUA prevê que a decisão tomada pelo país onde o crime ocorreu deve ser respeitada pelo outro, no entanto, não vemos isso acontecer nesse caso. A FAA simplesmente diz que as falhas cometidas não são suficientes para cassar o brevê dos pilotos e isso é um desrespeito à soberania brasileira” conta Gutjahr, que perdeu seu marido no acidente.
Lepore e Paladino, que ainda trabalham como pilotos, foram condenados por terem decolado com o TCAS (sistema anticolisão) e o transponder deligados, além de estarem voando em espaço aéreo não autorizado, erros considerados primários pela Anac.
Já processo criminal está em andamento no TRF (Tribunal Regional Federal), em segunda instância. “Estamos esperando que na primeira quinzena de outubro ele aconteça” conta Gutjahr. Em primeira instância, o juiz federal Murilo Mendes decretou Lepore e Paladino culpados, com pena de quatro anos e quatro meses em regime semi-aberto, com substituição para serviços comunitários e cassação da licença de voo pelo mesmo período.
“Essa é uma sentença absurda, pois eles devem prestar serviços comunitários nos EUA e apenas quando quiserem. Nós estamos recorrendo, já que queremos que eles sejam condenados em regime fechado e tenham o brevê cassado por tempo indeterminado. É inaceitável que dois homens responsáveis pela morte de 154 pessoas ainda estejam vivendo normalmente e pilotando aviões de passageiros” desabafa Gutjahr.
Indenizações
A empresa Gol já pagou indenizações para a maioria das famílias das vítimas do acidente, diz Gutjahr. No entanto, ela afirma que, para receber o dinheiro, a família é obrigada a assinar uma cláusula desistindo de todos os processos relacionados ao acidente.
“Já me ofereceram até R$ 5 milhões, mas eu não aceitei. Não que eu não precise desse dinheiro, mas para mim a Justiça e a condenação dos culpados são mais importantes” completa.
A diretora da Associação dos Familiares e Amigos do Voo 1907 afirma que a maioria das famílias precisa desse dinheiro. “Não sei muito sobre os valores das indenizações, porque não me interessei por isso, só sei que pelo menos cinco famílias ainda continuam na Justiça” completa a diretora.
Acidente
No dia 29 de setembro de 2006 um Boieng que fazia o voo 1907 da Gol, de Manaus ao Rio de Janeiro, colidiu com um jato Legacy da empresa ExcelAir pilotado pelos norte-americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino.
A aeronave da Gol caiu em uma área da floresta amazônica no Mato Grosso deixando os 154 passageiros mortos. Já o jato realizou um pouso de emergência e todos os passageiros saíram ilesos.