Fatia de mercado da Gol cai pelo 3º mês seguido, diz Anac
04/09/2012
Depois de roubar da TAM a liderança no mercado doméstico pela primeira vez no ano passado e se revezar no posto com a concorrente por alguns meses, a Gol está perdendo força nessa disputa. A aérea viu sua fatia de mercado cair pelo terceiro mês seguido em julho. Contando a Webjet, comprada em 2011, foi a quarta queda consecutiva.
Desde a aquisição da empresa de baixo custo, a participação conjunta da Gol vinha superando a da TAM em todos os meses, à exceção de janeiro. Em junho e julho, porém, voltou a ficar atrás, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Para especialistas do setor, o movimento mostra que a empresa está mais focada em voltar à rentabilidade, depois de amargar vários prejuízos seguidos, do que em buscar a liderança.
"A Gol quer ter um resultado melhor, por mais que perca participação de mercado", diz o consultor Nelson Riet. Para sair do vermelho, as companhias aéreas têm diminuído a oferta, depois de um 2011 com excesso de assentos no mercado. Na TAM, a redução para este ano deve ser de entre 2% e 3%; na Gol, pode chegar a 4%.
A estimativa da consultoria Bain & Company é de que hoje exista um excesso de oferta de 10% a 15%, montante que levaria de um a dois anos para ser absorvido pelo mercado. Isso é resultado da alta do dólar e do barril de petróleo, que tornaram as passagens mais caras. Com isso, as empresas têm dificuldade para preencher os aviões.
A procura por voos este ano também foi afetada pela desaceleração da economia brasileira. Com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo mais lentamente, as pessoas viajam menos de avião. "Se o PIB voltar a crescer, você absorve o excesso de oferta existente entre um ano e um ano e meio. Caso se mantenha crescendo a taxas muito baixas, como até aqui, leva mais tempo", diz o consultor André Castellini.
Perigos. A redução da oferta é feita justamente para evitar que os aviões decolem com baixa ocupação. Esse movimento, porém, é visto por especialistas do setor ouvidos como perigoso para as companhias - especialmente para a Gol - por abrir a possibilidade de migração de passageiros para as concorrentes. "Quando você corta um voo, um passageiro que iria embarcar nele tende a ir para o concorrente. Quando se faz cortes, tende-se a favorecer o concorrente que não precise cortar", disse um especialista, que pediu anonimato.
Por isso, a redução de oferta deve ser feita com cuidado. A eliminação de um destino menos procurado pode ser menos prejudicial do que a diminuição de voos na ponte aérea Rio-São Paulo, por exemplo, em que os passageiros que voam a negócios e costumam valorizar a maior flexibilidade de horários.
Para Riet, a Gol está em situação sensível. Para ele, os ajustes para melhorar a rentabilidade indicam um possível aumento da participação da sócia americana Delta ou a venda da empresa para um investidor ou concorrente. "Ainda não está muito claro qual o plano da empresa."