Famílias relatam dor e saudade após 5 anos do acidente da TAM
18/07/2012
A saudade dos parentes perdidos e a dor da perda vieram novamente à tona, nesta terça-feira, para os familiares das vítimas do voo da TAM que vitimou 199 pessoas em São Paulo há exatos cinco anos. Andrea, junto da mãe e da filha, vestiu sua camisa em homenagem à irmã Fabíola Ko Freitag, uma das vítimas do JJ 3054 que deixou Porto Alegre com destino à capital paulista naquele 17 de julho de 2007.
"Dá um sentimento de alegria, de poder estar junto das outras famílias", relata sobre o encontro realizado pelos parentes das vítimas nesta terça-feira, em São Paulo. "Mas a gente sofre tudo de novo. É muita dor. Vem a mídia toda novamente e aí a gente se lembra sobre como foram aqueles dias após o acidente", explica Andrea. A irmã Fabíola havia viajado de Porto Alegre para passar um dia de folga com o marido - ela era comissária de bordo da TAM.
Andrea lembra que, no caso de sua família, o acidente não foi a única tragédia: três meses depois, vítima de depressão pela perda da filha e de um infarto fulminante, seu pai também morreu. "Nós fomos até criticados por outras pessoas porque tentamos sempre sorrir, mesmo nos momentos mais difíceis. É nossa forma de reagir, não pode só chorar", explica.
No fim da tarde desta terça, será inaugurado um memorial em homenagem às vítimas, em Congonhas. Entre os familiares, razão para um certo conforto: "é uma coisa inacreditável que o ponto do acidente virou um local tão bonito", conta Andrea.
"É algo que nos afaga, que nos acarinha. É um templo, porque as pessoas morreram ali", define Dalila Souza Gonçalves. Ela perdeu 12 amigos no acidente e havia feito o trajeto entre Porto Alegre e São Paulo poucas horas antes do acidente. "Para mim foi marcante porque vi o avião batendo na hora. Estava no aeroporto esperando pelos amigos e não sabia na hora que eles estavam ali", relata.
"Aprendi a conviver com a dor. O tempo não apaga isso. Tem um buraco no meu peito que não vai sair", define Enílson Gonçalves. Ele é pai de Renata, comissária de voo da TAM e mais uma das 199 vítimas do acidente há cinco anos. Ao contrário de alguns familiares, diz que ainda tem coragem de entrar em um avião, mas ressalva: "é um dos meios de transporte mais seguros, mas precisa de respeito, de segurança e manutenção".
O acidente
O voo JJ 3054 da TAM decolou do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, em direção a São Paulo no dia 17 de julho de 2007. O Airbus A320 pousou às 18h48 no aeroporto de Congonhas, na capital paulista, mas não desacelerou durante o percurso da pista, atravessou a avenida Washington Luís e se chocou contra um depósito de cargas da própria companhia. Em seguida, a aeronave pegou fogo. Todas as 187 pessoas do avião e mais 12 que estavam em solo morreram.
Uma investigação do Setor Técnico Científico (Setec) da Polícia Federal apontou que uma falha dos pilotos é a hipótese "mais provável" para o acidente. De acordo com o Setec, uma das manetes que controla as turbinas da aeronave estava na posição para acelerar e isso anulou o sistema de freios. Não foi possível esclarecer se o comando estava na posição errada por falha humana ou mecânica.
Como fatores contribuintes para o acidente, o relatório final produzido pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) apontou que o monitoramento do voo não foi adequado, a Agência Nacional de Avião Civil (Anac) não havia normatizado regras que impedissem o uso de reversos (freios aerodinâmicos) travados e a Airbus não colocava avisos sonoros para mostrar aos pilotos quando as manetes estavam em posições diferentes (uma para acelerar e outra para frear o avião). Após a tragédia, a TAM instalou um dispositivo que avisa os pilotos sobre a posição incorreta do equipamento.
Em novembro de 2008, a Polícia Civil de São Paulo indiciou dez pessoas pelo acidente, entre elas o ex-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Milton Sérgio Silveira Zuanazzi e a ex-diretora da agência Denise Maria Ayres Abreu. Dias depois, no entanto, a Justiça suspendeu os indiciamentos alegando que "a medida policial ter sido lançada por meio de rede jornalística representa, aos averiguados, eventual violação de seu direito individual".
O inquérito sobre o acidente foi repassado para o Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo. Em julho do ano passado, o MPF ofereceu denúncia contra três pessoas por "atentado contra a segurança da aviação". São acusados: a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu; o ex-vice-presidente de operações da TAM Alberto Fajerman; e o ex-diretor de segurança de voo da companhia Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Castro. Desde 5 de junho de 2011, o processo está na mesa do juiz Márcio Assad Guardia aguardado a decisão final do magistrado.
Em janeiro de 2009, a Justiça Federal aceitou denúncia contra Denise Abreu por fraude processual. Ela é acusada de ter apresentado à desembargadora Cecilia Marcondes, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, um estudo interno como se fosse uma norma da Anac. Esse documento foi usado pela Anac no recurso que garantiria, em tese, a segurança nas operações em Congonhas com chuva, sendo que pousos e decolagens só precisariam ser proibidos caso a pista estivesse com uma lâmina d'água superior a 3 mm. Segundo depoimento da desembargadora Cecília Marcondes ao MPF, o documento foi fundamental para que a Justiça Federal liberasse a pista para pousos e decolagens de todos os equipamentos. Em junho de 2012, Denise Abreu impetrou habeas-corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo liminar para suspender a ação. No final do mês, o ministro Ricardo Lewandowski deu parecer favorável ao pedido.