Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo
Sexta, 29 de Novembro de 2024

Rotas 'mais retas' vão reduzir tempo de voo no país a partir de dezembro

11/09/2013
O redesenho das rotas brasileiras, que a partir do final do ano vai possibilitar às empresas aéreas reduzir o tempo de voo e economizar combustível, não deve, pelo menos num primeiro momento, resultar em barateamento das passagens para a população, como espera o governo.
 
O novo sistema deverá começar a ser implementado do país em dezembro, inicialmente nos trechos entre São Paulo e Rio de Janeiro, segundo a Aeronáutica. O voo doméstico entre os aeroportos de Congonhas (São Paulo) e Santos Dumont (Rio), por exemplo, que hoje dura cerca de 44 minutos, poderá ser feito em 36 minutos – 8 minutos a menos -, de acordo com as simulações da Aeronáutica.
 
Segundo o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, no atual cenário, em que as companhias do setor registram prejuízos milionários e têm as contas pressionadas pela disparada do dólar e encarecimento do combustível, a economia permitida pelo projeto “não será representativa” o suficiente para permitir a queda no preço dos bilhetes.
 
“Essa medida [economia de combustível com o redesenho das rotas] não faz nem cócegas no volume de custos que caiu sobre o setor agora. Ela hoje é muito importante do ponto de vista técnico, ambiental e do conforto do passageiro, que passará menos tempo dentro da aeronave. Mas, isoladamente, não muda esse cenário”, disse Sanovicz.
 
As empresas aéreas brasileiras gastam, anualmente, entre R$ 12 e R$ 13 bilhões apenas com o QAV, o querosene que move os aviões. Segundo o presidente da Abear, as novas rotas devem levar o setor a economizar cerca de R$ 350 milhões nos próximos cinco anos – cerca de 2,7% do custo anual com combustível.
 
Entenda o novo sistema de orientação
Como informou o G1 em 2011, a Aeronáutica planeja substituir o sistema de orientação usado pelas aeronaves no Brasil. Hoje, ao se deslocar entre dois aeroportos, os aviões seguem linhas de radares instalados no solo, que muitas vezes obriga a fazer curvas que deixam a viagem mais longa.
 
Com o novo sistema, as aeronaves que dispõem de computadores específicos poderão fazer voos guiados por satélite, recebendo o mesmo sinal de GPS que chega aos smartphones e aparelhos de orientação utilizados por motoristas.
 
Com o uso dos satélites, o deslocamento entre dois aeroportos será feito por uma rota 'mais reta' e, o tempo de voo, menor. Isso vai levar a queda no consumo de combustível, da poluição provocada pela sua queima e do ruído dos jatos.
 
O sistema chamado de Navegação Baseada em Performance (PBN, na sigla em inglês), deve começar a funcionar em dezembro nos deslocamentos entre os principais aeroportos de São Paulo (Cumbica, Congonhas e Viracopos) e do Rio de Janeiro (Santos Dumont e Galeão).
 
Ponte aérea Rio-SP deverá durar 8 minutos menos
Segundo a Aeronáutica, cerca de 80% das aeronaves que voam na ponte aérea estão equipadas para usar o novo sistema. Além disso, as empresas aéreas precisam ser certificadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
 
De acordo com a agência, Gol, TAM e Azul estão com o processo de certificação em andamento, sendo a Gol em fase final.
 
A previsão da Aeronáutica é que, a partir do início de 2014, o uso do novo sistema também deva ser liberado nas rotas ligando a aeroportos de outras capitais, como Belo Horizonte.
 
Gol prevê economia de R$ 176 milhões em 5 anos
 
O diretor Técnico-Opeacional da Gol, Pedro Scorza, diz que a empresa prevê economizar R$ 176 milhões em combustível nos próximos cinco anos com a redução do tempo de viagem entre aeroportos brasileiros.
 
Ele também avalia que essa medida só deve resultar em barateamento das passagens quando o dólar se estabilizar e o combustível descer a patamares mais baixos. No atual cenário, a economia com combustível só deve ajudar a evitar o aumento das tarifas.
 
De acordo com Scorza, a Gol está investindo cerca de US$ 100 mil para equipar cada um dos 36 aviões mais antigos de sua frota para que operem com o novo sistema – outros 93 já estão prontos. Além disso, a empresa vai gastar de R$ 3 milhões a R$ 5 milhões com treinamento de tripulação.
 
Hoje, 20% da tripulação da empresa que trabalha na ponte aérea Rio-SP já está apta a operar na navegação por satélite, disse ele.
 
Outras empresas
 
O G1 também procurou TAM e Azul para que comentassem o assunto. A primeira informou que suas aeronaves já estão capacitadas para operar as novas rotas e que está empenhada em conseguir a homologação da Anac.
 
Já a Azul informou que espera uma economia de 6% ao ano nos seus gastos com combustível após adotar o PBN, o que deve acontecer no início de 2014. Não disse, porém, quanto isso representa em reais. Ainda de acordo com a empresa, toda a sua frota de jatos já está equipada para voar pelo novo sistema, faltando apenas o treinamento da tripulação.
Prejuízo e ajuda do governo
 
No fim de agosto, as quatro maiores empresas aéreas do país, TAM, Gol, Azul e Avianca, apresentaram ao governo federal uma série de medidas a ser adotada de maneira “urgente” para reduzir o custo de suas operações no país e, com isso, evitar o aumento das passagens aéreas nos próximos meses.
 
O pedido de ajuda foi motivado principalmente pela alta no preço do querosene e pela subida do dólar, que elevou muito o custo das empresas – entre 55% e 57% das despesas das aéreas são dolarizadas.
 
A maior companhia aérea da América Latina, a Latam Airlines, fruto da fusão entre a chilena LAN e a brasileira TAM, encerrou o segundo trimestre deste ano com prejuízo líquido de US$ 329,8 milhões. Já a Gol registrou prejuízo de R$ 433 milhões.
 
A imagem mostra como são as rotas hoje, com necessidade de curvas e cruzamentos nas ligações São Paulo-Belo Horizonte e São Paulo-Brasília. As linhas azuis são os 'caminhos' baseados nos equipamentos instalados no solo.  (Foto: Foto: Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea))
 
Imagem mostra como vão ficar as rotas, mais 'retas' e com menos cruzamentos (Foto: Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea))