Aeroporto da Pampulha pode operar apenas com aviação executiva e regional
02/09/2013
A Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico e a Prefeitura de Belo Horizonte devem entregar no mês que vem à Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) o plano de desenvolvimento que deve direcionar os rumos do Aeroporto Carlos Drummond de Andrade, na Pampulha, pelos próximos anos. A proposta é permitir que ele foque na aviação executiva e regional, deixando para o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, os voos interestaduais e internacionais. O estudo, elaborado pela empresa de consultoria KED Consultantes, é usado como argumento do governo estadual para incentivar as empresas a participar do leilão de privatização de Confins. Elas estariam receosas por não saber ao certo o que seria feito do terminal da Pampulha.
Pelo estudo, o aeroporto teria capacidade para receber mais de 300 jatos executivos, fortalecendo a aviação executiva, inclusive com a criação de uma aduana para controle da entrada e saída de mercadorias de voos internacionais. Segundo estimativa, somente o setor de manutenção de aeronaves seria capaz de gerar aproximadamente 3 mil vagas de emprego. “Queremos estimular fortemente a aviação executiva. É um projeto para fortalecer a nova centralidade do contorno da Pampulha”, afirma o subsecretário de Investimentos Estratégicos da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Luiz Antônio Athayde.
O governo estadual quer ainda que a Pampulha funcione como um terminal complementar ao aeroporto de Confins para permitir que até 2016 sejam 30 cidades mineiras com voos regulares para a capital. O masterplan para o aeroporto inclui também o que está previsto para o desenvolvimento da região situada a até 10 minutos do terminal. O planejamento assemelha-se ao que é feito pelo governo estadual na formação da aerotrópolis (cidade-aeroporto), tendo Confins como eixo principal.
A destinação do aeroporto é um dos questionamentos apresentados pelas empresas interessadas na concessão do aeródromo internacional. As possíveis concessionárias temem que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) revogue a portaria que desde 2007 limita as operações a aeronaves de até 75 lugares. Caso isso ocorra, a Pampulha poderia atrair voos domésticos, o que afetaria o fluxo em Confins e, por consequência, alteraria a taxa de retorno. Em entrevistas recentes, o chefe da Secretaria de Aviação Civil (SAC) da Presidência da República, ministro Moreira Franco, afirmou que Belo Horizonte teria um aeródromo voltado para a aviação executiva, repetindo os projetos do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde as unidades serão privadas.
NOVOS RUMOS Nas audiências públicas presenciais para discutir a minuta do edital de concessão de Confins e do Galeão, os representantes da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República foram incisivos em afirmar que o contrato não pode determinar os rumos da Pampulha e de outros terminais. “O estudo influencia fortemente o Aeroporto Internacional Tancredo Neves para mostrar que não há concorrência com a Pampulha. Não há uma concorrência predatória entre ambos”, afirma o subsecretário.
Antes de terem sido estabelecidas as restrições, o Aeroporto Carlos Drummond de Andrade tinha fluxo bem superior. Em 2004, foram 3,2 milhões de passageiros, enquanto no ano passado o número de passageiros representou menos de um quarto desse total: 774,88 mil. Já no aeroporto de Confins os números foram inversos: saíram de 388,58 mil em 2004 para 10,39 milhões de passageiros transportados em 2012.
Segundo a Infraero, atualmente, o aeroporto da Pampulha tem 62 voos por dia de segunda a sexta-feira; 27 aos sábados e 26 aos domingos. Do total, 17 são para cidades em estados vizinhos (Cabo Frio, no Rio de Janeiro; Guarulhos, Campinas e Ribeirão Preto, em São Paulo). Além disso, são sete ligações com cidades mineiras (Araxá, Governador Valadares, Ipatinga, Uberlândia, Uberaba, Montes Claros e Patos de Minas).
Passageiros apreensivos com mudança prevista
Entre os consumidores, a maioria com negócios – ou família – na Região Central de Belo Horizonte prefere fazer voos pelo aeroporto da Pampulha. “O aeroporto da Pampulha deveria ter mais opções de voos para São Paulo e Rio de Janeiro. Se tirar os voos interestaduais de lá vai ser muito ruim, vai complicar para a gente”, afirma Robson Pinheiro, terapeuta e autor de livros. Ele e o consultor William Martins viajam semanalmente para outros estados, como São Paulo, e para as regiões Nordeste e Sul do país.
Eles costumam viajar da Pampulha para Guarulhos (SP). Mas a volta é feita via aeroporto de Confins. “Só voltamos por Confins porque não há outra opção. Mas não dá para ficar refém do aeroporto, que é muito longe, falta vaga no estacionamento e o táxi custa entre R$ 100 e R$ 120 até o Centro da capital”, ressalta Pinheiro.
O empresário Ricardo César Menossi mora em São Paulo e vem a Belo Horizonte a cada duas semanas de avião. Ele só usa o aeroporto da Pampulha nos voos para Campinas (SP). “Já usei o aeroporto de Confins, mas lá é muito longe. Aqui fica perto das empresas que tenho que visitar”, diz. Se os voos interestaduais saírem da Pampulha, diz, sua logística vai complicar. “De Campinas eu vou para o interior de São Paulo. Acho o contrário, que deveria ter mais voos da Pampulha direto para São Paulo”, diz.
A supervisora de vendas Roberta Oliveira viaja de avião toda semana. Ela mora em São Paulo e vem a Belo Horizonte a cada dois meses. Na semana passada ela chegou por Confins, mas não gostou da experiência. “É fora de mão, muito longe. Gastei duas horas do aeroporto até as lojas da Leroy Merlin, onde trabalho”, diz. Na viagem de volta ela optou por sair da Pampulha, com voo para Campinas. “Aí eu gastei uns 15 minutos das lojas até o aeroporto. A diferença é muito grande”, diz.
Saiba mais...
O setor da aviação em Minas mantém a polêmica dos voos há quase 10 anos, quando o aeroporto da Pampulha foi fechado para voos com aeronaves com capacidade acima de 50 assentos. Com a limitação, grandes companhias aéreas concentraram suas operações em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), dividindo a opinião da população entre a comodidade de um aeroporto distante apenas oito quilômetros do Centro da cidade, porém insuportavelmente cheio (na época), e a viagem de 40 quilômetros até um aeroporto em outro município, que apesar de bem mais distante, oferece mais conforto e segurança aos usuários. O terminal da capital já passava por grandes problemas desde o fechamento, por questões meteorológicas, como alagamentos em períodos de chuvas. Enquanto isso, o aeroporto de Confins estava praticamente deserto e era conhecido como um “elefante branco”.