Aviação precisa chegar ao interior do país, diz Infraero
28/06/2013
O setor de aviação civil tem no Brasil enormes possibilidades de crescimento, mas para isso precisa superar conhecidos gargalos, dizem especialistas que participaram do evento “Aerobrasil 2013 – I Seminário Nacional de Aeroportos”, realizado nesta quinta-feira (27), em São Paulo.
“A infraestrutura brasileira, seja ela aeroportuária, seja rodoviária, seja ferroviária, ficou aquém do crescimento da demanda acontecido nos últimos dez anos, por uma série de razões. (...) Essa demanda veio crescendo e a infraestrutura aeroportuária não acompanhou esse crescimento e nós estamos de verdade correndo atrás do prejuízo”, admitiu Antonio Gustavo Matos do Vale, presidente da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).
Segundo ele, parte do desafio que se apresenta atualmente é fazer a aviação chegar ao interior do país. “Nosso objetivo é fazer com que nós tenhamos uma aviação regional (...) compatível com a nossa economia e fazer com que o povo brasileiro possa mesmo usar a aviação como seu principal meio de transporte. Os recursos estão dados e cabe a nós, profissionais da área, fazer com que esta aviação surja e esteja compatível.”
Aviação regional
Ao falar sobre o programa de aviação regional do governo, Victor Celestino, diretor de Relações Institucionais da Azul Linhas Aéreas, disse que a companhia – que já opera em mais de cem aeroportos – identificou cem novos aeroportos com potencial de demanda.
“O que estamos preocupados é com o timing deste programa. Quanto mais rápido, melhor, justamente para contrapor estes efeitos macroeconômicos negativos”, disse.
Com relação à aviação civil, Celestino citou três questões que precisam ser rapidamente resolvidas. “Primeiro é a isenção das tarifas, que vai fazer diferença na operação dos aeroportos regionais; depois o subsidio, que está num modelo muito novo e inovador, achamos que deve ser implementado o quanto antes para mitigar justamente essa relação de custo na operação da aviação regional; e, por último, a modernização regulatória, na questão da distribuição dos slots, especialmente a abertura do aeroporto de Congonhas para a Azul, porque já estamos prontos, com os investimentos preparados, somente esperando uma decisão do governo.”
Basílio Dias, diretor de Assuntos Regulatórios da TAM, disse que a companhia tem visto “com muito bons olhos” a questão da aviação regional. “Temos feito estudos internos muito grandes a respeito disso. A TAM nasceu com DNA de uma empresa regional (...) e a vocação dela é de empresa regional”, falou. “A gente sabe que com esse mercado regional hoje a gente mudaria a trajetória do desenvolvimento do Brasil.”
Embora a aviação regional represente uma boa oportunidade na visão dos profissionais que participaram do evento, o coronel Lindolfo Würzler, parceiro da Socicam no aeroporto de Angra dos Reis, afirmou que o grande desafio é tornar os aeroportos regionais superavitários. “Ninguém quer os aeroportos regionais porque não vai dar dinheiro, é ‘boca pobre’”, falou.
Seria importante, na opinião dele, encontrar uma fórmula de viabilizar estes empreendimentos. “Sei que o principal não são as tarifas aeroportuárias (...), mas sim os negócios que poderão ser desenvolvidos nestes aeroportos. Você vai conceder áreas para hangar, para empreendimentos comerciais”, comentou.
Desafios
Ao citar o que considera um dos desafios que o país precisa vencer, José Antunes Sobrinho, presidente do consórcio Inframérica, falou que é preciso formar mão de obra capacitada para atuar no país. “Nosso grande desafio é estruturar e ter capacidade de gestão. A quantidade de novos aeroportos que pela frente é imensa. Estamos com pelos menos duas décadas atrasadas e a aviação ficou muito para trás no papel que deveria ter. Temos de recuperar muito em pouco tempo e para isso precisamos ter gente preparada”, falou.
Para Luiz Alberto Kuster, presidente da Viracopos Aeroportos do Brasil, também é preciso modernizar as leis de aduana, de Receita Federal no país. Segundo ele, existe uma grande oportunidade na carga aérea nacional. “É uma coisa muito tímida, nós não temos essa cultura no país e seria uma grande oportunidade até para subsidiar passagem aérea de passageiro”, falou.
“Um grande desafio está na questão da aduana, na modernização das leis para fazer o desembaraço de cargas. A gente tem uma inconstância muito grande nos processos. Nós temos na média de Viracopos, 50 horas para liberar uma carga e, nos Estados Unidos, se faz isso em 5 horas.”