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Terça, 26 de Novembro de 2024

Contra violência à mulher, Érica Paes repassa técnicas adaptadas da luta

23/03/2017

Lutar jiu-jítsu e MMA não deixa ninguém imune a sofrer agressão, em casa ou na rua, especialmente se for mulher. Que o diga Érica Paes. A única mulher a vencer Cris Cyborg no MMA já foi vítima da violência doméstica dentro de sua própria casa, e também sofreu tentativas de estupro. Seu conhecimento de artes marciais a salvou, e a escalada da violência à mulher no país - de acordo com o estudo "Mapa da Violência 2015 - Homicídios de mulheres no Brasil", 13 mulheres são assassinadas por dia em território nacional - a alertou à necessidade de repassar sua sabedoria. No último fim de semana, a lutadora paraense deu o pontapé inicial na versão carioca de seu projeto "Eu Sei Me Defender", em que ensina técnicas de luta adaptadas para a defesa pessoal de mulheres em situações de assédio, abuso e agressão.

- (O projeto) Começou devido a eu ter sido vítima tanto de violência doméstica, quanto de duas tentativas de estupro, e, justamente, o sentimento de ter conseguido sair dessa situação… (Pensei) “Nossa, ainda bem que era eu”. Sempre pensava na possibilidade de ter sido outras mulheres, porque ocorre, infelizmente, o crescimento da violência contra a mulher está desordenado, em todos os sentidos. Aí surgiu a ideia de passar um pouco do meu conhecimento nessa forma, encontrar parcerias que me passassem esses números, essas estatísticas e começar a estudar os movimentos que eu já fazia no sistema progressivo e de conhecimento durante a vida toda, são 17 anos de faixa preta (de jiu-jítsu). Então eu comecei a adaptar algumas coisas para situações reais. Por exemplo, esse mês, o crescimento de abuso sexual foi em ambiente doméstico, então essa estatística me leva a pensar: “O que eu vou fazer no ambiente doméstico?” Passei a imaginar e a gente começa a simular. Eu estou deitada de lado, o cara vem e pula em cima de mim; estou de peito para cima e o cara vem; estou de bruços e o cara vem para me estuprar, em um ambiente doméstico, estou dentro da minha casa, né? Então eu comecei a fazer o estudo para poder replicar para as minhas alunas, para que elas não passem por esse tipo de traumas - explicou Paes ao Combate.com.

Érica Paes, projeto Eu Sei Me Defender, MMA, jiu-jítsu (Foto: Adriano Albuquerque)
Érica Paes demonstra como tirar satisfação de assediadores em lugares públicos (Foto: Adriano Albuquerque)

O projeto começou em Belém, cidade natal da lutadora, e ganhou notoriedade após Érica Paes apresentá-lo no programa "Encontro com Fátima Bernardes" no início do mês - a lutadora vem atuando como consultora e atriz na próxima novela das 9 da Rede Globo, "A Força do Querer", de Glória Perez. A partir daí, a paraense recebeu centenas de mensagens de todo o país, incluindo de médicas, advogadas, juízas, engenheiras - em resumo, mulheres bem sucedidas em suas profissões - relatando casos de violência doméstica e pedindo para participar do projeto. A primeira turma, que terá aulas gratuitas na Ilha da Gigoia, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, já está lotada, e Paes também abriu turmas pagas às terças e quintas, às 12h e às 19h, na academia KS, na Barra da Tijuca.

- O foco é passar o conhecimento de uma vida inteira dedicada às lutas, dedicada aos treinos, e de uma forma social. Esse trabalho é gratuito, no projeto social é gratuito. Já o programa “Eu sei me defender”, aqui na KS, existe uma mensalidade, para aquele povo que não pode estar lá. Em menos de 24h, a gente lotou a turma e está com lista de espera. É grandioso o trabalho. Estamos com a pretensão de lançar na Cidade da Polícia, em parceria com a Polícia Civil. Estamos caminhando para lançar um grande polo, com capacidade para mais ou menos 200 alunas por turma - contou.

Érica Paes, projeto Eu Sei Me Defender, MMA, jiu-jítsu (Foto: Adriano Albuquerque)
Érica Paes instrui uma aluna do projeto "Eu Sei Me Defender": primeira turma já está lotada (Foto: Adriano Albuquerque)

Na primeira aula, com cerca de 20 pessoas, Érica Paes repassou diversas situações de agressão, desde tentativas de estupro a assédios na rua e em boates. Ela contou com a ajuda de alguns alunos masculinos e femininos para demonstrar as técnicas. Na plateia, estavam os atores Raul Gazolla e João Camargo, que estão no elenco da novela "A Força do Querer", e a lutadora enfatizou: o projeto não é contra os homens, mas contra a violência.

- Sempre ajudo e sempre participo quando posso. Acho o projeto fantástico, toda mulher tem o direito de saber se defender da truculência de um homem covarde. Um homem que quer agredir uma mulher pra conseguir qualquer coisa, seja um abraço, um beijo, um estupro, uma violência a mais, merece o extermínio. Acho esse trabalho essencial. Existe uma violência que a gente desconhece, mas é verdadeira, que é a violência caseira, doméstica, e isso acontece em várias classes sociais, em que o cara acha que pode se sobrepor à mulher porque é do sexo masculino. Acho isso um absurdo. Graças a Deus a Érica está fazendo esse trabalho, conscientizando e ensinando algumas técnicas, que a mulher pode se defender e escapar de uma situação difícil - disse Gazolla.